Ouso afirmar que a Doutrina espírita, bem antes do inicio de
sua codificação, através do então professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, já
era uma verdade, dado que desde quando há vida, desde a existência do primeiro
ser, os espíritos vem se demonstrando em sua plenitude.
Desta forma, devemos consentir que a Doutrina Espírita, surge
a partir de fatos que geraram questionamentos entre os homens por meados do
século XIX, onde foi observado que diversos objetos se movimentavam. De maneira
geral, chamavam de “mesas girantes” ou “dança das mesas”. Este fenômeno foi
registrado nos estados unidos e logo passou a ser registrado também na Europa.
Ocorre que estes movimentos não eram estáticos, por assim
dizer, muitas vezes era brusco, desordenado; outras vezes o objeto era
violentamente sacudido, derrubado, levado numa direção qualquer e, contrário a
todas as leis da estática, levantado do chão e mantido no espaço.
Em março de 1848, no humilde vilarejo de Hydesville, Estado de Nova
Iorque, surgiram fenômenos mediúnicos que abalaram a opinião pública da época.
Tais fenômenos ocorreram numa tosca cabana, residência da família Fox. Onde ali
moravam as meninas Kate e Magie, de 11 e 14 anos, sendo as médiuns que doavam
fluidos para possibilitar a comunicação do espírito em epígrafe. Os
acontecimentos a partir do primeiro diálogo com o Espírito, em 31 de março de
1848, empolgaram a população do vilarejo, surgindo, em novembro de 1849, as
primeiras demonstrações públicas, com as irmãs Fox.
E na Biografia de Alan Kardec, escrita por Marcel Souto Maior, assim
retrata o efeito das mesas girantes:
“A mesas giravam, saltavam e corriam em tais condições que não
deixavam lugar para qualquer dúvida.”
E complementa: “Entrevi, naquelas aparentes futilidades, no
passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como a
revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo. Havia um fato
que necessariamente decorria de uma causa.”
Assim surge o pesquisador, que começa a compilar, através de
pesquisas e cartas que passa a receber de todo o mundo fatos que indicasse de
forma séria e comprovada a existência dos espíritos.
Evidentemente que para tanto era necessário aplicar um método, fato
que já adotava desde a época de estudante, pois procurava respostas para o
devido entendimento de todos os fatos.
E foi com fidelidade a princípios sérios para avaliar, questionar e
validar as manifestações dos espíritos naquela época que Allan Kardec
prosseguiu com seu trabalho e assim procedia:
“Melhor rejeitar dez verdades como sendo mentiras do que aceitar uma
única mentira como sendo verdade”.
E esta era sua linha de conduta.
Em 18 de abril de 1857 foi publicada a primeira edição do Livro dos
Espíritos. Com uma saída de 1.500 exemplares esgotando com dois meses após
publicação.
Um livro de perguntas e respostas acerca das manifestações dos
espíritos, os princípios da Doutrina espírita sobre a imortalidade da alma, a
natureza dos espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida
presente, a vida futura. Mas que de forma contundente, traz Deus no centro do
seu conteúdo, que da sua primeira pergunta questiona:
- O que é Deus?
E como resposta recebe:
"Deus é suprema inteligência, causa primeira
de todas as coisas."
E desta forma, um mundo novo, e eterno, se descortinava a cada
página.
E homens reconhecidamente sérios e de muito respeito na sociedade
local contribuíram para realização desta tarefa, como o renomado Benjamin
Franklin, inventor do para-raios, o matemático Emanuel Swendenborg e mais dois
médicos contemporâneos, o alemão Samuel Hahnemann, considerado o pai da
homeopatia, e o cirurgião francês Guillaume Dupuytren.
Nesta época a mediunidade era tida como doença. Assim afirmou o
médico Clever de Maldigny: “É uma epidemia recente vinda da américa. Uma
moléstia mental altamente contagiosa, que fazia vítimas na Alemanha, Inglaterra
e, agora, na França. O mal atacava principalmente as moças sensitivas, mais sujeitas
à ação magnética.” E este diagnóstico foi dado a garota Ermance Dufaux, com 12
anos na época.
E justamente através desta menina, médium, diagnosticada como doente que surge o contato mediúnico de um dos
espíritos que iria contribuir muito com os trabalhos que Allan Kardec estava
desenvolvendo. Surge a comunicação do espírito “São Luis”, o rei Luis IX.
E o Sr. Dufaux, pai da menina Ermance, questiona o espírito São Luis para provar a veracidade
de sua presença, solicitando ditar-lhe algo edificante em moral, no que recebe como resposta:
“Sê tu, amigo, como um rio benfazejo que derrama por onde passa a
fertilidade e a frescura, perdoa a teus inimigos como o salvador que, quase ao
expirar, orou por seus carrascos, dando assim aos homens seu derradeiro exemplo
de bondade (...).”
“Ama teus inferiores na hierarquia social. Não imites os homens
tiranos de seus irmãos, nem os que, por seu exemplo, transviam as almas
humildes e obscuras que lhe cumpre guiar e proteger neste vale de provações
para todos.”
Em julho de 1859 Kardec lança um espécie de cartilha intitulada “O
que é o Espiritismo.”
E assim definia:
“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma
doutrina filosófica. Como ciência prática, envolve as relações entre nós e os
espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que emanam
dessas relações.”
Em resumo: “O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza,
origem e destino dos espíritos, bem como suas relações com o mundo corporal.”
Daí revela-se o tríplice aspecto da Doutrina Espírita:
Ciência, Filosofia e Religião.
Em 18 de marco de 1860 foi lançada a nova versão do Livro dos
Espíritos, onde os originalmente lançados 501 diálogos se tornaram 1.018
perguntas e respostas, acompanhadas de comentários e notas explicativas
assinadas por Kardec.
Em janeiro de 1861 Kardec lança o Livro dos Médiuns, onde consta o
ensino dos espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os
meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade,
as dificuldades e obstáculos que se pode encontrar na prática do espiritismo.
E num encontro na cidade de Lyon com os seguidores da no doutrina,
Kardec conclama os discípulos a se unirem para enfrentar o sarcasmo, a zombaria
e lança o slogan que até então se torna lema do espiritismo:
“Fora da caridade
não há salvação”.
Não posso deixar de
retratar que todas estas revelações causaram incomodo, em especial a igreja
católica e seus seguidores que passaram a retaliar e inclusive confiscar as
publicações das obras lançada por Kardec e um dos marcos destas atitudes ocorre
na Espanha quando o então Bispo Antônio Palau y Termens impedem a entrada de
300 exemplares legalmente enviados por Kardec ao seu amigo, escritor Mauricio
Lachâtre.
Este fato ficou conhecido como “O auto de fé de Barcelona”, no que
se transformou num marco do espiritismo. Nesta ocasião Kardec até insistiu com
a liberação dos exemplares, ou até mesmo a devolução, no que não teve sucesso,
vindo a ser ateados em fogo, como nos atos deliberados pela igreja que
considerava a necessidade da inquisição.
E abril de 1864 surge o então intitulado “Imitação do Evangelho
Segundo o Espiritismo”, renomeado três anos depois como “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, que através de mensagens reflexivas sobre passagens bíblicas dos
evangelhos de São Mateus, São Marcos, São Lucas, traz novos contextos e
esclarecimentos sobre a essência da moral cristã e assim mostra o poder do:
“Amai-vos uns aos outros”.
E em setembro de 1865, Kardec anunciou na Revista Espírita o
lançamento do Livro O Céu e o Inferno – ou a justiça divina segundo o
espiritismo. Onde em seu contexto faz menções sobre a passagem da vida corporal
a vida espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as
penas eternas.
Em janeiro de 1868, começaram a circular na França os exemplares da
obra assinada por Allan Kardec, intitulada por “A Gênese – ou os milagres e
predições segundo o espiritismo”. A ciência é chamada a constituir a gênese
segundo as leis da natureza. Deus prova sua grandeza e seu poder pela
imutabilidade de suas leis, e não pela suspensão. Para Deus, o passado e o
futuro são o presente.
O Espiritismo tem por base as verdade fundamentais de todas
religiões:
- Deus;
- A alma;
- A imortalidade;
- As penas e recompensas futuras.
Vem a
provar a imortalidade da alma, sua individualidade depois da morte, sua
sobrevivência ao corpo.
Tudo isso baseado em princípios morais, compilados em todas as obras
codificadas por Allan Kardec, onde
nos faz
atentar sobre a necessidade:
- Da
caridade;
- Do amor a Deus;
- Do amor aos homens;
- O cumprimento das leis; e
- O reconhecimento da sua justiça Divina.
Da qual, em sã
consciência, nenhum ser encarnado ou desencarnado terá como fugir.
Como na Carta de São Paulo, apóstolo dos gentios, “Fora da Caridade
não há salvação, sem amor a caridade real não acontece, pois ele remete ao
esquecimento de si mesmo em beneficio dos mais necessitados”. O AMOR não é
apenas a essência da Doutrina Espírita, é indubitavelmente a essência da VIDA.
E para encerrar deixo o texto seguinte:
Trecho do poema “À Villequier” de Victor Hugo, escrito em 1854:
“Eu digo que o túmulo que sobre os mortos se fecha
Abre o firmamento
E que aquilo que embaixo acreditamos ser o fim
É o começo.”
Fernando Oliveira – 29.09.2016.
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