quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Suicídio e Suas Consequências


Quando fui convidado para realizar a palestra tratando o tema: “O SUICÍDIO E SUAS CONSEQUÊNCIAS”, fiquei em primeiro instante feliz pela oportunidade, mas de imediato me vi apreensivo. Muitas indagações surgiram, mas o certo em minha consciência era que não dava para tratá-lo com simples achismos, em consequência da seriedade que o tema nos traz. Sei que temos muitas dúvidas.
E para as vítimas deste ato? Muita dor e sofrimento, não apenas para seus familiares, mas também para os próprios irmãos que decidiram acabar desta forma, com sua existência carnal.
E para a surpresa destes irmãos, que tomaram a decisão de suicidar-se, a descoberta que a vida não acaba, quando morremos o que se acaba é o corpo e a surpresa maior: Despertam em outro plano de vida. O Mundo Espiritual.
Sei que todos fazem muitas perguntas em torno deste tema: O que faz uma pessoa tomar tal decisão? Porque decidir abdicar da própria vida? E eu como fico sem você? Como você estará agora? Deus perdoa um suicida? Será que quem se mata vai para o inferno? O que faltou para que você não fizesse isso? Onde eu errei com você? O que você fez consigo?
Daria para fazermos muito mais perguntas. Mas eu lhes faço outra pergunta: Onde ficaria o livre arbítrio? Sabemos que a vida é feita de escolhas e que o simples fato de se fechar em copas pode gerar momentos de individualidade e, por consequência, a DEPRESSÃO.
Observem que muitas das informações que recebemos de irmãos que se suicidaram, passavam por momentos de solidão, de tristeza profunda, de depressão até chegarem à consumação deste fato. E porque tudo isso? Diz Allan Kardec no livro O Céu e o inferno que “A felicidade perfeita é inerente à perfeição, isto é, à completa depuração do Espírito. Toda imperfeição é, ao mesmo tempo, causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda qualidade adquirida é fonte de gozo e de atenuação dos sofrimentos” CI – Parte primeira – Cap. VII pag. 122.
Partindo por este prisma, começamos a refletir as causas do Suicídio e por consequência os seus efeitos. Ninguém fica impune diante das leis divinas. A Lei de Causa e Efeito ou de Ação e Reação diz que para toda ação haverá uma reação oposta na mesma proporção, na mesma intensidade. É como o nosso pensamento, se pensamos com amor, recebemos amor, se pensamos com ódio, recebemos o ódio.
Procurei ler livros, textos que me trouxessem esclarecimentos sobre este assunto, e num deles o Livro “Memórias de um suicida” escrito pela médium Ivone do Amaral Pereira, o espírito Camilo Cândido Botelho nos traz informações do seu desencarne e de sua experiência no plano espiritual. Ele nos conta que a decisão de se matar trouxe tristes consequências principalmente por ignorar que tudo não se acabaria com a extinção da vida física. E narra no primeiro momento em que se percebe ainda vivo, mas em espírito: “Fora eu surpreendido com meu aprisionamento em região do Mundo Invisível, cujo desolador panorama era composto por vales profundos, a que as sombras presidiam: gargalhadas sinuosas e cavernas sinistras, no interior das quais uivavam, quais maltas de demônios enfurecidos, Espíritos que foram homens, dementados pela intensidade e estranheza, verdadeiramente inconcebíveis, dos sofrimentos que os martirizavam”.
Além do irmão Camilo Cândido Botelho o André Luiz descreve no livro Nosso Lar suas primeiras experiências assim: “Sentia-me, na verdade, amargurado, duende nas grades escuras do horror. Cabelos eriçados, coração aos saltos, medo terrível senhoreando-me, muita vez gritei como louco, implorei piedade e clamei contra o doloroso desânimo que me subjugava o espírito; mas, quando o silêncio implacável não me absorvia a voz estentórica, lamentos mais comovedores que os meus respondiam-me aos clamores. Outras vezes gargalhadas sinistras rasgavam a quietude ambiente. Algum companheiro desconhecido estaria, a meu ver, prisioneiro da loucura. Formas diabólicas, rostos alvares, expressões animalescas surgiam, de quando em quando, agravando-me o assombro. A paisagem, quando não totalmente escura, parecia banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, que os raios de Sol aquecessem de muito longe.”
Estes textos nos descrevem o quanto triste é a região umbralina onde os espíritos que se suicidam são destinados. Vejam que existem neste local muita dor e sofrimento. E até que ocorra o socorro, dentro do merecimento de cada espírito, muitas aflições, que pode durar, dias, meses, anos, até séculos dado o grau de endurecimento que alguns tenham em seus corações.
Existem dois tipos de suicidas: O voluntário e o involuntário. Claro que em nenhum dos dois o ser que se destina a fazer, não será menos responsável por ato tão vil. Como disse o nosso irmão de Lion “Ninguém fica impune diante das leis divinas”. Enquanto o ser que voluntariamente extingue sua vida por egoísmo, falta de fé, orgulho e maledicências diversas, o involuntário o faz através de diversos tipos de desregramentos que poderíamos nos ousar a elencar entre: hipocondria, uso do álcool, uso do fumo, alimentação desregrada, ódio, vingança, inveja e ociosidade. Há também os casos de quadros obsessivos, onde o indivíduo que está passando por um momento de fraqueza e em consequência de atitudes que causaram dor, sofrimento e tristezas diversas nas vidas de outros seres no pretérito e por não reconhecer seu ato como algo mal, não se arrepender e nem tão pouco pedir perdão, ao ser reencontrado por sua vítima pode ser conduzido, por oferecer sintonia com o mesmo, a desistir da vida. Pode ser conduzido, mesmo que inconscientemente, involuntariamente, ao suicídio. Claro que se o espírito é nobre, pratica o bem, o amor incondicionalmente, faz caridade e age de forma espontânea ajudando aos mais necessitados, este estará protegido e abençoado por Deus impedindo a aproximação destes pobres e sofredores espíritos.
Deus, justo, soberanamente bom, jamais deixará seus filhos sofrer, se o sofrimento não for uma opção reencarnatória, assumida a fim de purificação do espírito para sua redenção.
E nós que estamos nesta romagem, devemos em processo de reforma íntima, numa melhoria contínua, lutar contra nossas fraquezas, nossas tendências danosas para vencer ao mal, fortalecendo-nos pela fé, em preces constantes, em rogativas para Deus pedindo sua orientação, para através do amor, ajudar aos nossos irmãos que sofrem deste triste problema, com fortes tendências ao suicídio.
Quanto aos irmãos que partiram desta forma, através de informes do plano espiritual, sabemos que além do Hospital Santa Maria, tem outros tantos hospitais, que acolhem estes sofridos e queridos filhos de Deus, com os mais variados motivos de desencarne, onde através de terapias e processos de recuperação com o apoio dos enfermeiros e médicos espirituais, esclarecendo o quanto triste foi sua decisão e os convidando a se recuperar e ao mesmo tempo, de acordo com o nível de consciência, aceitação e resignação de cada um, renovar seus votos de amor a Deus retornando para uma nova vida, fortalecidos também pela esperança, mesmo que em corpo deficiente para purificar-se através da dor e do sofrimento.
Aquele que desistiu da vida com um tiro na cabeça, poderia retornar com uma deficiência mental, o que praticou mal com afogamento, poderia retornar com deficiência cardíaca ou respiratória, outro que poderia ter fraquezas múltiplas em função de dependência alcoólica ou química, um cadeirante, uma ausência de uma perna ou braço, mas a certeza é que a providência divina aceita tal pedido como uma condição moral necessária para a purificação do ser como a busca contínua pelo aperfeiçoamento espiritual.
Aqui estamos para evoluir e isto significa que temos que combater sempre ao orgulho, a vaidade, a inveja, o desamor, a ociosidade. O espiritismo nos ensina que somos eternos e é justamente na certeza de uma nova vida que devemos nos renovar na fé praticando incessantemente o bem, a caridade incondicionalmente, sem nada esperar em troca. Que devemos nos renovar a cada dia dando testemunho desta certeza racional. Que o acaso não existe e que não estamos aqui apenas para nascer viver e morrer, pois assim nada teria sentido.
Temos que dar nossa contribuição, não apenas para nossa existência, mas também para os nossos entes queridos comprovando através de ações voluntárias, espontâneas, sem propósitos maiores além da felicidade suprema.
Se precisarmos sofrer para amadurecer, nos fortalecemos na fé. Se nos sentirmos enfraquecidos com as duras provas que a vida nos traz, lembremo-nos de Jesus que seguiu seu calvário molestado e humilhado diversas vezes e em nenhum momento se rebelou, pois sabia Ele que havia um propósito maior, Ele morria para a redenção dos nossos pecados. Ele sim foi forte e não desistiu da vida, ao contrário, foi morto para salvar toda uma sequencia de vidas a partir dali viriam ao nosso planeta criando novas condições para nossa evolução. Claro que muitos erros aconteceriam, mas nada que não tenha sido planejado por nosso Pai, Querido Deus. Ele nos deixa a vontade pra decidir se que queremos evoluir ou não. A nossa consciência irá nos mostrar o caminho certo a seguir, mas não se iludam, nesta vida estamos para o AMOR.
Desistir dela, A VIDA, é um ato de fraqueza, de pouca fé, de desamor.
E desde o dia em que recebi este convite, durante o dia-a-dia me ocorreram várias notícias de pessoas que se suicidaram, a mãe de uma amiga, a filha da secretária de outra, o primo de mais uma amiga e ontem para complementar estas notícias realizei um atendimento na nossa casa de trabalho, a Casa da Sopa de um irmão que tem tendências suicidas. E neste momento me veio um pensamento, será que isto é um laboratório ou mais uma oportunidade de ajudar a este irmão. Segui pela segunda opção e enquanto o atendia pedia a Deus para iluminar este ser e também inspiração, ajuda aos amigos espirituais para me orientar a fim de encontrar as palavras certas a dizer para ele. Este irmão tinha em suas mãos um violão que foi utilizado com as canções ajudando-nos na preparação das atividades da casa e ali me veio a mensagem seguinte: veja como ele toca bem, veja que ele tem arte, arte é beleza, arte é pureza, ai está o seu brilho, valorize o que de bom este irmão tem. E sabem por que tanta depressão, além da dependência de álcool e drogas, o simples fato de sua mãe não o procurar mais, de desistir dele. Havia muita tristeza em suas palavras, muita dor. Dizia ele que se sentia vazio por sentir falta do amor materno.
Não observar a quem sofre é contribuir também com tais atitudes. Olhemos atentamente para o nosso próximo para que o nosso verdadeiro AMOR os impeçam de seguir nas sombras do suicídio. E aos que foram, oremos, peçamos a Deus para ter resignação, compaixão e envie os mensageiros do amor para socorrê-los.

Prece:

“Deus, Pai amado, tende compaixão de nós. Acolhei o nosso pedido por nossos irmãos que sofrem em consequência do suicídio. Olha para eles com tua bondade e perdoa-lhes, querido Deus. Permita que os nossos amigos espirituais, médicos e enfermeiros, que já prepararam este ambiente, deem o devido socorro a estes tantos irmãos que aqui nos acompanham. Sabemos que jamais desistes de nós. Então ousamos ainda mais te pedir que nos proteja, mantendo sempre ao nosso lado os nossos anjos guardiões, nos fortalecendo, orientando, nos conduzindo pelo caminho do bem. Obrigado Senhor Deus. Assim seja!”
Fernando Oliveira – 15.05.2012 

Palestra realizada no SEJA em 15.05.2012.