Queridos irmãos, abaixo tomo a liberdade de fazer uma crônica sobre o
Livro Viagem espírita em 1862, tradução de Evandro Noleto Bezerra, publicado
pela FEB. Peço desculpas ao tradutor, à editora e aos queridos leitores se aqui
provocar algum excesso, mas usando do princípio da liberdade de expressão, apenas
pretendo expor minhas impressões, com total humildade, contando com vossa
compaixão e compreensão, mas na expectativa de receber vosso acolhimento
fraternal. Segue:
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Estudando esta obra, Viagem Espírita em 1862, encontrei um Kardec com na
sua mais pura essência.
Vi um Kardec preocupado. Um Kardec cuidadoso. Um Kardec sensível. Vi o
senhor Hypollite Léon Denizard Rivail criterioso.
Vejo um homem que dedicou sua vida a cuidar das pessoas. Um Kardec preocupado
com as pessoas, mas acima de tudo se preocupando com o futuro da humanidade,
com o futuro do espiritismo. Um homem que queria um espiritismo limpo, desde
sua concepção. Um espiritismo que não sofresse mudanças nos seus postulados, um
espiritismo correto, diante da responsabilidade que lhe foi incumbida por Deus
e Jesus, vislumbrando um horizonte que alcançasse os homens, mesmo
compreendendo as limitações da humanidade, evidentemente.
Vejo um Kardec que queria estar perto das pessoas, indo sem medir
esforços para os lugares mais distantes da França, sobrepondo suas necessidades
intimas, desejando que o espiritismo fosse um patrimônio de todos, não apenas
do seu pais natal pois sabia que o espiritismo não estava legado a apenas um
país. O espiritismo é uma dádiva para a humanidade. Ele previu o futuro.
Enxergou além do seu tempo. Viu além das suas cercanias.
Entendeu que o espiritismo era o divisor de águas para todas as
concepções religiosas, porque compreendeu que o espiritismo poderia sim trazer,
dar as respostas para tudo que a humanidade não encontrava em outras doutrinas
ou filosofias religiosas. Principalmente porque, devido sua natureza
criteriosa, aspecto que definia sua personalidade, sua formação acadêmica,
compreendeu que a humanidade precisava de respostas. E desta forma percebeu que
esta Doutrina, a Doutrina Espírita, tornava-se então o Consolador Prometido, o
Consolador prometido por Jesus, dando-nos a certeza de um futuro, deixando-nos
confortados. Mas como compreender este futuro? Acredito que Kardec pensou: será que nós, a humanidade, por
desconhecimento poderíamos desvirtuar aos princípios básicos, essenciais da Doutrina
Espírita?
Kardec também teve um cuidado especial com as crianças, relatando que a
criança bem orientada, educada nos preceitos da Doutrina espírita, tornar-se-ia
um jovem, um adulto, mais consciente, disciplinado, educado, coerente com os
princípios de amor, divisando o equilíbrio psíquico, moral, intelectual e
principalmente espiritual.
Preocupou-se também com os médiuns, pois observou que alguns médiuns
passaram a ter condutas lamentáveis a cerca da mediunidade, alienados,
considerando-se importantes com fato de, em alguns casos, perceberem a presença
de espíritos de moral superior, suscitando neles vaidade, fazendo-os se sentirem
mais importantes diante de outros irmãos de caminhada, desviando-se de
princípios importantíssimos, como a humildade, o amor e a compaixão, esquecendo
os ensinamentos de Jesus. Pois bem, meus irmãos, sabemos que a mediunidade é
uma oportunidade que Deus nos para nossa redenção, nossa transformação moral,
nosso equilíbrio espiritual, e ainda assim muitos ainda não compreendem.
Viu que em alguns casos os médiuns desviaram a proposta verdadeira da
mediunidade, ostentando, usando-a como mercadoria ou como oportunidade para sua
autopromoção, aproveitando-se dela para benefícios pessoais, materiais,
corrompendo a sua proposta de elevação moral. Fato este, que decerto não nos
surpreende, pois vezes nos deparamos com casos semelhantes, mesmo passados mais
de 150 anos do surgimento do espiritismo.
É evidente que tudo isso afeta a ética, configura um risco grande para o
espiritismo, sem excluir o prejuízo moral para a própria pessoa, prejudica
ainda a imagem da Doutrina, além do que, tais condutas representam um
desserviço ao Espiritismo.
Kardec não dispensou de nenhum cuidado, se esmerava em detalhes para
evitar situações como estas. Sempre primou pela qualidade e a excelência em
tudo que fez.
Compreendi e aumentei minhas convicções do quão sério é o espiritismo!
Seriedade esta configurada com a riqueza dos detalhes e o esmero na
composição da codificação. Seriedade transcrita em cada relato das viagens por
ele realizadas. Cada observação, cada informação, cada aprendizado (sim
aprendizado), pois Kardec não se eximiu em nenhum momento de colher nestas
viagens novas informações, novas lições sobre os espíritos, as comunicações,
suas condutas, suas experiências, capturadas a partir de documentos,
correspondências, psicografias a ele repassadas pelos companheiros espíritas das
cidades por onde passou.
Compreendi como a codificação é importante, pois o irmão Lionês
demonstrou através de seus relatos toda seriedade adotada para elaboração destes
do que adiante comporiam adendos para as obras da codificação, para as diversas
revistas espíritas, com o critério e a sensibilidade do professor, pedagogo e cientista.
De alguém que tinha responsabilidade sobre tudo que escrevia, pois via no
espiritismo algo que poderia contribuir para a melhoria da humanidade, dando
informes de como poderíamos envidar a nossa transformação moral.
Vi em Kardec um homem que demonstrava um especial cuidado social, pois é
claro que o espiritismo tem um aspecto social. É claro que Kardec nunca se
envolveu com as questões políticas, pois esta não era e não é a proposta do
espiritismo. Se a conduta do homem, melhorada através da vivência espírita,
reflete positivamente sobre a convivência social, este reflexo abrange então todas
as camadas sociológicas, fato este que é positivo ao Espiritismo, mas nunca se
exprime como conduta política. O espiritismo é uma Doutrina educadora,
orientadora, transformadora, e aqui é apenas este pensamento e tradução do Kardec
que trazemos e refletimos.
Um Kardec que faz toda diferença em nossas vidas. O Kardec que para os
que já se afirmam espíritas, não pode ser novo, digo isso partindo do
pressuposto que até este ponto casa um que assim se afirma já tenha lido e
estudado as obras básicas do espiritismo, pois é através do profundo
conhecimento da codificação que podemos compreender todo código moral nos traz
e muito disso é reflexo da competência e trabalho de excelência do professor
descendente da escola de Pestalozzi.
Precisamos estudar! Precisamos evoluir moralmente! Precisamos nos transformar!
Precisamos nos educar! Nos disciplinar!
Precisamos nos entregar! Sim, nos entregar! Porque vejo um Kardec que se
entregou de corpo e alma ao Espiritismo. Abriu mão da sua vida, abdicou do seu
trabalho, se entregou de forma incondicional ao Espiritismo. E isso é algo
esperado para cada um de nós, assumidos como espíritas!
Não podemos mais agir como simples passageiros que faz uma viagem já com
a estação de parada predefinida. porque o Espiritismo é apenas uma ponte para
algo muito maior que nós. O Espiritismo nos mostra que a ultima estação onde iremos
chegar é a FELICIDADE FUTURA. Então nessa existência se encontramos o
Espiritismo, não o deixemos, fiquemos nele!
Fiquemos com profundidade! Fiquemos de corpo e alma e espírito! Fiquemos
de coração! Assim como o fez Kardec! Assim como está anunciado no Evangelho de
Jesus através dos mandamentos: “Amareis o Senhor teu Deus de todo o teu
Espírito, de toda a tua Alma e de todo o teu Coração” e “Amarás o teu próximo como
a ti mesmo”. Ai está essência do evangelho de Jesus. E não é sem propósito que
o Espírito Verdade vem nos anunciar o Espiritismo, acendendo em nós a chamo do
amor por esta doutrina.
Amemos o Espiritismo também! Amemos de forma profunda, eficaz,
eficiente. De forma responsável, consciente, porque nós não podemos levar o
Espiritismo para uma seara de ficção, para uma seara de misticismos, para uma
seara de equívocos dogmáticos, porque isso não traduz o espiritismo!
O Espiritismo verdadeiro é aquele que transforma as nossas ações através
do evangelho de Jesus. O Espírita verdadeiro é o que conhece e pratica o
Evangelho de Jesus. O Evangelho que nos ensina a prática do AMOR. E essa
pratica do amor Kardec faz traduzir, com toda sua essência, com toda sua
verdade, quando enfim disse em suas preleções nestas viagens, a bandeira do Espiritismo, que, finalmente, é:
“FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO!”
Fernando Oliveira - 29/09/2019.